terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Capítulo Sete – O endereço.

Capítulo Sete – O endereço.

Mezzo ansiosa, mezzo curiosa; era assim que Melanie sentia-se em relação a tudo que vivera na noite anterior. Sua mente fervilhava de emoções que nunca tinha experimentado. Não recordava da última vez em que sentira algo tão empolgante e amedrontador. Cada minuto deste novo dia estava sendo consumido por pensamentos do que ocorrera. O uivo, a lua, Julian; o medo que a possuiu e aquele estranho que parara diante de sua janela. Quem era aquele? Tinha muitas perguntas; só não sabia onde encontrar as respostas. Ou será que sabia?
Enternecida, Melanie estava na calçada na rua atrás da pousada, exatamente onde o homem estancara na noite anterior. Ficou ali olhando para a janela do próprio quarto, tentando imaginar o que ele estaria pensando enquanto a observava. Ariela, a menina que morava ao lado da pousada, aproximou-se receosa. Melanie, percebendo que a garota hesitava, lançou-lhe um sorriso da maneira mais verdadeira que pôde. Ariela não retribuiu, mas parou perto de Melanie.

- Oi. – tentou, amigavelmente, a forasteira.

- Oi. – respondeu Ariela, timidamente – Você é Melanie, né?

- Mel, se preferir.

- A Raissinha me falou de você, da sua mãe e do seu irmão. Falou também que vocês vieram ficar uns dias e que vieram de Curitiba. Eu sempre quis conhecer Curitiba.

Melanie surpreendeu-se por tantas palavras saírem daquela boca. Achou que não passaria do “oi”.

- Ela me falou que vocês são uma família legal. – continuou – É tão difícil encontrar gente legal nesta cidade... Neste buraco.

Melanie sentiu um regozijo e pensou o quanto começava a gostar da menina que estava à sua frente.

- Não é tão ruim assim. – emendou Mel, querendo fazer acreditar que estava realmente dizendo a verdade.

- Eu sou Ariela. Mas, na escola, me chamam de muitos nomes. - contou com a voz nitidamente pesarosa – Um diferente a cada semana.

Melanie sentiu-se condoída. Mas não deixou transparecer, já que estava ciente do trauma que Ariela carregava.

- Não esquente, Ariela! Tem muita gente maldosa e em todos os lugares.

Melanie tirou um Trident de menta do bolso de trás da calça. Tirou um, pôs na boca e ofereceu outro para Ariela. A menina olhou para o chiclete e, timidamente, aceitou-o.
- São meus últimos. – disse Melanie – Procurei e não achei por aqui.

- Aqui não tem muita coisa mesmo.

- Eu tenho dois vícios na vida. – confidenciou Melanie para Ariela, que estalou os olhos – Roer as unhas e Trident de menta.

Ariela sorriu pela primeira vez, denunciando seus sentimentos em relação à Melanie; ela também gostou da forasteira. Enquanto trocavam informações uma com a outra sobre suas vidas, Melanie ficou atenta à possibilidade de encontrar um jeito de incluir suas dúvidas sobre Julian. Ou do homem de terno preto da noite anterior. De repente, Ariela saberia alguma informação.

- Quem você conhece de interessante por aqui? – arriscou.

Ariela demorou mais do que o normal para responder, como se estivesse fazendo uma imagem mental de todos os moradores da cidade.

- Para ser sincera, ninguém.

Melanie ficou decepcionada! A garota demorou tanto só para deixá-la no vazio.

- Você quer saber de alguém em especial?

“E agora?” - pensou - “Falo alguma coisa?”

- Mais ou menos. – respondeu.

Ariela franziu a testa e cruzou os braços.

- É um cara, não é?

- É. – respondeu Melanie, incerta sobre qual dos dois mais desejaria saber – O nome dele é Julian.

- Eu sei quem é... – Ariela fechou a cara – E sei também que ele não é muito apropriado pra uma menina... – ela ficou procurando as palavras - ...assim como nós.

- Por que não?

- Eu não gosto de falar de ninguém. Assim como não gosto que falem de mim. Entende?

- Como eu faço pra falar com ele? Você sabe onde ele mora?

- Sei. Mas não acredito que você vá poder falar com ele, não.

- Por que não?

- Melhor do que tentar lhe explicar é lhe mostrar.

Meia hora depois do almoço, estavam as duas de bicicleta na estrada que Julian tinha apontado à Mel. Ariela emprestou à nova colega a bike da prima que vinha algumas vezes por ano passar férias com ela. E também confidenciou que a menina humilhava-a muito. Pedalaram e riram muito no trajeto. Melanie sentiu-se surpresa e admirada ao descobrir o quanto essas sensações faziam-lhe falta. Não recordava também da última vez em que saíra pedalando descompromissada por aí, nem de rir por qualquer bobagem que acontecesse. Em poucos dias, tornara-se uma pessoa muito áspera e crítica. Parecia que tudo estava errado e na hora errada. O tempo passava, e ela via seus antigos sonhos dissiparem-se na sua frente, como areia levada pelo vento.
Chegaram ao velho seminário. Ariela parou, encostou a bicicleta e sentou-se no barranco; nitidamente demonstrava cansaço. Melanie acompanhou a atitude da nova amiga. Ela não se espantou em perceber o tom lúgubre do lugar. Parecia abandonado. Esquecido no tempo. Ao derredor, o mato fazia-se onipresente. Ela analisou cuidadosamente o lugar; no mínimo, deveria ser tombado pelo Patrimônio Histórico da humanidade.

- Isso era um seminário, certo?

- Há muito tempo atrás, foi sim.

- Sabe alguma coisa do lugar?

- Bom... Segundo contam, é do tempo dos escravos, coisa assim.

- Nossa! Então, é velho mesmo.

- Falam também que era esconderijo...

Ariela silencou abruptamente, percebendo que iria passar adiante algo que deveria guardar apenas para si mesma.

- Esconderijo? Como assim?

Esforçando-se para procurar uma explicação, ela levantou e subiu novamente na bicicleta.

- Esconderijo de animais. De bicho... Coisas desse tipo.

Melanie levantou-se também e, em seu rosto, pairava a dúvida sobre a resposta que obteve de Ariela. As duas seguiram pela estrada que as levaria onde Julian morava. Só que, agora, pedalavam em um silêncio constrangedor. O trajeto que fizeram pela estrada principal foi de mais ou menos 20 minutos pedalando tranquilamente. Quando entraram na estradinha secundária, já estavam se falando e rindo. Melanie entendeu que não poderia exigir fidelidade de alguém que acabara de conhecer. Ambas não tinham a obrigação de escancararem seus segredos uma para outra. Pelo menos, por enquanto ainda não.
Antes de adentrarem na propriedade, Ariela parou; Melanie fez o mesmo ao lado da nova amiga. Ariela apontou na direção em que Julian residia. Melanie sentiu o queixo cair. Ela avistou algo como uma muralha alta, inabalável, coberta de vegetação que se estendia monumental de uma extremidade a outra. Parecia um forte. Uma prisão. Nem ao menos podia-se ver o que existia no seu interior, aquilo que o muro guardava tão imponente. No centro, um portão de madeira reforçado. Parecia pesado. Intransponível.

- O que é isso?

- É aí que ele mora.

- Ok! Mas que lugar é esse?

- É uma fazenda, eu acho. Eu só cheguei até aqui, e muito poucas vezes. Acho que essa é a terceira.

- Mas o que tem lá dentro?

- Pessoas... – Ariela diminuiu o tom de voz - ... estranhas. É o que comentam.

- Estranhas como? O que mais comentam?

- Muita coisa. Você vai aprender a ouvir um monte de histórias esquisitas por aqui. Isso aí não é nada.

- Você não acha fora do normal uma coisa dessas?

- Acho. Por isso que eu lhe disse que ele não servia pra você.

Melanie sentiu-se desconfortável com a insinuação de Ariela.

- Não. Eu só fiz amizade com o cara. Nada mais.

Ariela deixou escapar um sorriso.

- Está bem. Cada um sabe de si, não é?

Ela deu a volta com a bicicleta.

- Vamos voltar, agora? Não me sinto bem neste lugar.

- Não; – respondeu, decidida, Melanie – quero ir mais perto. Quero ver o que tem lá dentro.

- Me desculpe, mas você vai sozinha, então. Eu não passo daqui.

- Não acredito que está com medo!

- Eu já disse; daqui não passo. Nem adianta querer me provocar.

A curiosidade instalou-se em Melanie, e ela ficou imaginando como faria para entrar ou, então, como chamaria por Julian. Subiu na bicicleta e olhou para Ariela, demonstrando sua intenção de seguir em direção à muralha.

- Você vai mesmo? – perguntou Ariela.

- Vou chegar lá perto e chamar pelo Julian. – respondeu - Deve ter algum jeito de me ouvir. Você me espera aqui, pelo menos?

- Um pouco, eu espero. Agora, se você conseguir entrar e demorar, eu volto pra casa.

Melanie acenou com a cabeça, selando o acordo. Ariela posicionou-se para ver a forasteira que seguia lentamente pela estradinha em direção ao portão. Minutos depois, parada, diante do íngreme portão, Melanie, tardiamente, percebeu que talvez sua ideia não tivesse sido boa. Não havia frestas, nem fechadura. Deveria estar trancado por dentro. Seria prudente ela gritar por Julian? Pensou em recuar e avistou Ariela ao longe; ela ainda estava lá, imóvel. Se retornasse sem nenhuma tentativa, possivelmente a garota iria achar que ela estaria com medo. Mas o pior era que, realmente, sentia algo próximo ao medo; só não queria admitir. Melanie tomou coragem e gritou o nome de Julian, mas a voz saiu fraca, quase inaudível. Então, encorajou-se ainda mais e gritou com mais ímpeto. Sua voz ecoou. Ela olhou para a amiga distante, e esta lhe acenou indicando que, ao menos, havia ouvido. Certo tempo passou, e Melanie decidiu voltar. Agora já poderia, pois provara à amiga que chamou pelo rapaz, mas ninguém do lado dentro do muro a ouviu. Subiu outra vez na bicicleta e, antes mesmo de pedalar, escutou o barulho amedrontador do portão sendo aberto.

14 comentários:

  1. Voh ajudar na divulgação sim!
    Nossa,n toh aguentando tanto suspense...

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  2. Pode conta com a minha ajuda.. (Y
    Sua história ta muuuito legal *-*
    curiosidadeeee crescendo =x

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  3. Parabéns a história estaá muitooO boa
    Como a Lorena disse "Curiosidade crescendo"
    Pode contar com a minha ajuda para a divulgação!!

    OBS.: Vc é de Curitiba?(só pra saber)
    È pq eu tb sou hehe

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  4. Estou acompanhando sua história também
    e está muito boa... parabéns!

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  5. Muitooo, muitooooooo boooom...
    Espero ansiosa a continuação !

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  6. Muito bommmmm!
    continua assim.
    e sobre a divulgarem vo da uma ajuda!! :)

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  7. eeii
    nossa ta mto bom (!!)

    akii vc tem horariio de post ????

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  8. Oi Priscila,
    sou de Guarapuava, centro-oeste do Pr, mas amo Ctba.
    Anônimo,
    estou procurando postar um cap por dia, no máximo em dois dias, mas sem horário.
    Bjão a todos e thanks por lerem e divulgarem minha estória.
    Débora

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  9. por favor...continue..mto bom...mesmo..vc nao tem medo de postar uma coisa tão boa em um blog..?
    se der passa no meu blog...

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  10. aiaiai!!
    Curiosidade crescendo [3]
    Hihih

    Eu já divulguei para umas amigas, e fique feliz, Débora; eu descobri essa sua "estória" no tópico de uma comu que frequento, ou seja, ela está sendo divulgada ;D

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  11. {Nanda} *N conseguindo efetuar login* Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...


    Quero ler o cap.14 e os outros logo!!!...rs


    Esta ficando muito interessante a Historia...
    bem, eu jogo RPG há mais de 5 anos...Jogo Vampire...Pensei que no começo nao iria gostar da historia (afinal, temos a base de regras do RpG) porem, estou gostanto muito... Parabens....

    Deveria Publica-lo logo....Editoras que te aguardem..rs

    Bjus Uma Leitora fiel!

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  12. ou ele vei ao seu encontro
    o quê vai aconteçer
    SUSPENCI
    RARARARA

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  13. com sertesa eu vou ajudar a divulgar pois a sua historia ta muito boa e eu to louko para ler o restante

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