segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Capítulo Seis – Lua Azul

Capítulo Seis – La Bella Luna

Na pousada, a hora do jantar era muito cedo. Melanie acostumou-se a comer em horários desordenados e, algumas vezes, na frente da TV ou do PC. Ficar em volta de uma mesa, jantando ao lado de gente estranha, não era muito a sua praia. A comida era boa; tempero caseiro, mas, ainda assim, sentia falta de comer pizza, ou ir ao McDonald’s do shopping. Estava ali há poucos dias e já sentia falta de tanta coisa!
Depois do jantar, sempre migrava para o quarto. Ficava sozinha. Sua mãe permanecia com Dona Carmélia e com outra mulher que ela não sabia o nome, vendo as novelas naquela TV do período cretáceo. Nicolas juntava-se à Raíssa que, quase sempre, encontrava alguma atividade interessante para fazerem na outra sala menor. Mas, agora, ela sentiu uma vontade diferente, a de sair. Estava chateada; a lembrança de Julian abraçado a outra garota assombrava-a. O desejo de sumir daquele lugar reapareceu com anseio redobrado. Mas, no momento, sentia vontade de estar do lado de fora. As paredes estavam sufocando-a. Atravessou o salão de entrada e foi seguida pelo olhar atento das mulheres que, ladeadas, ocupavam o sofá. Colocou a mão na maçaneta e girou. A porta não abriu, estava trancada.

- Hoje não, querida!

Dona Carmélia, num tom fraternal, advertiu. Melanie olhou na direção das mulheres e notou em sua mãe o mesmo ar de surpresa.

- Por favor! Hoje ninguém sai. – explicou Dona Carmélia, no mesmo tom suave – Por isso está trancada.

E olhou para Flávia.

- Não gosto de fazer esse tipo de coisa. E nem quero assustar ninguém. Mas tem algumas noites em que alguns arruaceiros de cidades vizinhas, ou sei lá de onde, vêm fazer algazarra aqui. Mexem com as pessoas na rua; então, pra evitar confusão, nós ficamos todos em casa. – ela fez uma breve pausa – Sem exceções.

- E nunca ninguém viu quem são? Ninguém chama a polícia? - perguntou Flávia, preocupada.

- Já acontece há muito tempo. Ficamos dentro de casa, assim como os dois únicos policiais que temos.

- Isso quando o Waldemar não vai encher a cara lá no Castelinho. – completou a outra mulher, com os olhos vidrados na imagem distorcida da TV – Daí, só tem um policial.

- Não fique chateada, querida. Vai haver outras noites pra você sair. – continuou Dona Carmélia – Por que não senta aqui conosco?

- Isso, filha. – completou Flávia, indicando a poltrona ao lado – São os últimos capítulos.

- Não. – respondeu uma desapontada Melanie – Vou pro quarto ouvir música.

A garota retirou-se em direção ao quarto e percebeu que a conversa continuou. Ela conhecia sua mãe. Sabia que Flávia não ficara satisfeita com as explicações. Com certeza, iria querer descobrir mais sobre esses acontecimentos. Melanie também conhecia a si mesma; ela sabia que não seria esse tipo de obstáculo que a prenderia quando, enfim, resolvia sair.

Não se considerando uma pessoa medrosa, Mel acreditava que, dependendo da situação, conseguiria se garantir. Era horário de verão, mas já estava bem escuro; parecendo que os sons noturnos que vinham de todos os lugares da cidade amplificavam-se àquela hora. Ela sentia uma leve brisa refrescante em seu rosto. Estava na esquina de trás da pousada, olhando na direção daquela pracinha. Nunca havia se imaginado andando sozinha por uma rua semiescura e ainda mais com a tal ameaça de que gente baderneira viria aprontar por ali. Mas, como a velha senhora sabia que seria justamente naquela noite? Vai ver ela era como aquelas ciganas e, nas horas vagas, fazia previsões. Melanie colocou as mãos nos bolsos de trás do jeans e caminhou querendo aparentar tranquilidade. Estava com sua calça preferida. Ainda não a tinha usado desde que chegara; aquela que somente se coloca em ocasiões que se consideram especiais. A garota não se deixaria abater por qualquer situação que lhe provocasse medo, mas gelou por inteira quando pôs os pés na pracinha novamente. Se de dia era um lugar ermo, à noite parecia cenário de uma história macabra. Melanie até concordou que gostava de filmes de terror, mas não de vivenciar um.

“Meu Deus! O que eu estou fazendo aqui?” – pensou ela, recriminando a si mesma.

Não foram poucas as vezes em que, assistindo a algum filme de suspense, xingou a protagonista por sair sozinha ou entrar em lugares escuros. Agora estava ela ali, na mesma situação. Sentou-se no banco e, seguidamente, olhou para onde Julian havia surgido. A rua era pouco iluminada até uma altura; depois, era breu total. Olhou para o céu e imediatamente compreendeu o porquê de parecer que a praça estava tão iluminada. Não eram somente as luzes opacas da iluminação pública que a deixavam luminosa; era a luz da lua também.

“Nossa!” – pensou – “Que lindo!”

A lua brilhante clamava por atenção no céu estrelado. Grande. Luminosa, num tom azulado. Lua azul. Melanie tirou seu Mp4 do bolso, colocou os fones, deixando o volume bem baixo, no caso de surgir outro barulho por perto. Ouviu uma música, depois outra e uma terceira. Desligou o aparelho e tornou a guardá-lo no bolso. Nem suas músicas prediletas faziam-lhe companhia. Já estava a ponto de levantar e retornar à pousada quando ouviu o som mais horripilante de toda a sua vida. Entrou em seus ouvidos e atingiu o âmago do seu ser. Sombrio. Um uivo sombrio. Melanie levantou num rompante, seu coração acelerou tanto que teve dificuldade de respirar. O ser causador do uivo estava ao longe, mas sua presença era viva, fervilhando nas suas veias. Ela quis correr, mas suas pernas travaram. Quase tombou para trás. A sensação de que flashes de luzes circulavam-na voltou a acontecer. Piscavam ao seu redor e seguiam na direção do uivo, que agora se repetiu mais próximo e ainda mais congelante. O som das espadas também se fazia presente. Muitas espadas entrelaçando-se em um campo de batalha.
Melanie sentia-se perdida. Estagnada. Estava sozinha no meio da noite. Sentiu que um vulto aproximava-se, ofegante. Cada vez mais perto. Ela não conseguia nem mexer os olhos; parecia estar em um transe. Não podia gritar por ajuda. Não podia correr. Uma mão pesada caiu sobre o seu ombro.

- O que você está fazendo aqui?

Não conseguiu olhar para o rosto de quem a segurava, mas reconheceu a voz: Julian.

- Você não deveria estar aqui.

Melanie sentiu o corpo vascolejar.

- Melanie!

Ouviu seu nome, e um forte chacoalhar despertou-a do transe. Ela olhou para o rosto de Julian e procurou seus olhos; um gemido de pavor saiu da sua garganta quando os encontrou. Nunca havia presenciado olhos tão grandes. No centro, um vermelho tom de sangue envolvido pela escuridão. Outro uivo, agora bem próximo, ecoou sobre luminosidade azulada da lua. Julian ergueu a cabeça e farejou o ar, olhou para Melanie e apertou doloridamente seus braços.

- Você não pode ficar aqui. – esbravejou e empurrou-a na direção contrária ao uivo – Corra e não olhe pra trás.

A garota hesitou e começou a chorar. A voz de Julian, num tom mais grave, advertiu-a.

- Corra!

Com excessiva dificuldade, Melanie deu os primeiros passos. Ela não se atreveu a olhar para trás, mas sentiu que Julian agitava-se, grunhindo. Então, correu desesperadamente. Ao alcançar a quadra da pousada, ouviu novamente o uivo, agora seguido de outro. Entrou ainda em pânico pela janela e não se deparou com ninguém dentro do quarto. Possivelmente sua mãe ainda estava vendo TV, e Nicolas brincava com Raíssa.
Pôs-se debaixo das cobertas; tremia muito. Levou alguns longos minutos para começar a acalmar-se. Aos poucos, colocou o rosto para fora do cobertor e olhou por todo o interior do quarto. Quando seus olhos depararam-se com a janela, percebeu que a havia esquecido aberta ao entrar, afoita; quase esmoreceu. O vento soprava fracamente a cortina para dentro do quarto. Melanie prendeu a respiração, fechou os olhos num reflexo desesperador e, lentamente, foi posicionando-se na cama. Firmou um dos pés no chão e pareceu-lhe que assoalho de madeira não continha fundo. Custosamente ficou ereta e seguiu na direção da janela. Clamou silenciosamente pelo auxílio dos céus, ação que raramente fazia. Considerava-se autossuficiente nessas questões. Agora percebia que certos momentos acontecem para mostrar o quanto pensava e agia errado.
Não havia barulho algum do lado de fora. Os uivos tinham cessado. Só o vento e o cadenciado balançar dos galhos das árvores do quintal faziam-se ouvir. Mesmo assim, Melanie permanecia apavorada. Olhou para fora. Sabia que não devia, mas fez assim mesmo. Não avistou movimento algum fora do comum. Sentiu um impulso de fechar rapidamente as folhas da janela e trancá-las, mas se deteve. Curvou-se levemente com o intuito de observar as laterais da grande casa. Olhou para um dos lados e não viu nada. Refez o mesmo processo para o outro; e também nada avistou. Suspirou aliviada e colocou-se novamente para dentro do quarto.
Não existia ameaça alguma lá fora; concordou que já estava na hora de fechar a janela e esquecer o que acontecera. Quando as duas folhas estavam quase se juntando pela pequena fresta, ela avistou-o saindo das sombras. Imponente. Ele estava na calçada do outro lado da rua. A jovem menina sentiu, no momento em que seus olhos encontraram-se, uma ligação universal com aquele que a observava. Novamente aquela sensação apossou-se dela. Parecia que o quarto estava tomado por luzes que surgiam e desapareciam em segundos. A sinfonia das espadas em combate fazia-se presente. Mas, agora, não se sentia mais ameaçada. Melanie sabia quem era ele. Era o belo estranho do Gallardo vermelho. Mas o que ele fazia ali, parado, olhando fixamente para ela? Trajava um terno preto. Estava elegante. Cabelos negros brilhantes e com um tom azulado pelo brilho da lua que o tornava sedutor.
Mel não sentiu medo, apenas impulsionada a ficar observando aquele desconhecido pela noite toda, se necessário fosse. A única sensação sentida eram as batidas do próprio coração, que a conduziam ao excitamento de ficar admirada por aquele que, lá no fundo, trazia-lhe segurança. Mas seus pensamentos foram cortados pelo som nefasto do mesmo uivo sombrio que havia escutado minutos atrás. O estranho do lado de fora mexeu levemente a cabeça para o lado de onde o uivo tinha partido. Ela seguiu seus olhos que se projetaram na direção da lua. A imensa lua que reinava no céu. As luzes intensificaram-se ao redor de Melanie, e o som das espadas pareciam golpes dados com força brutal, golpeando sem pararem. O estranho olhou para ela novamente e acenou num gesto cortês em sinal de despedida. Ela não sabia o que fazer, apenas retribuiu acanhada o gesto. Ele recuou e desapareceu nas sombras. Melanie fechou rapidamente a janela e jogou-se debaixo das cobertas outra vez. Agora não temia mais pela própria vida, mas, sim, pela do belo estranho que acabara de despedir-se.

8 comentários:

  1. Muitoooo bommmmm!!!!
    ta ficando muito boa sua historia!!! :)

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  2. Nossa legal!!!
    Estou esperando a continuação
    =D

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  3. Muuito legaal!!
    Estou muuito ancioso pela continuição!!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. oie..to amando o blog...vc é fã de Crepúsculo?bjus

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  6. Nossa eu li sentido na pele e imaginando tudo!! Me arrepiei!!

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  7. deixa eu ver quantas pessoas atraem Melanie:
    Bruno~>o garoto da escola
    O estranho~>aparentemente inrresistível e
    Julian~>goroto de uma cidade proviciana e com um charme a mais...
    é ela vai ter muito o que escolher...

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  8. Caraca o finalsinho dese capitolo cinceramente me deichou todo arepiado...
    Apesar de eu ter visto so o treiler do filme crepusculo essa historia paresce ter tudo aver com o filme muito misterio e medo.

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