sábado, 27 de dezembro de 2008

Capítulo Quatro – Cidade dos Segredos

Capítulo Quatro – Cidade dos Segredos

Ao contrário dos primeiros dias e das primeiras horas vivenciados na pequena cidade, Melanie observava que o tempo parecia, teimosamente, correr mais depressa. Há alguns dias, deparara-se com um desconhecido e, agora, suas perspectivas já eram outras. Quanta diferença aquele sobretudo fez! Se fosse um rapaz do estilo gótico de cidade grande, vá lá. Mas um caipira desfilando em plena luz do meio-dia, como se estivesse no filme do Batman?! Com certeza, seria motivo para um comentário maldoso feito na rodinha de amigas quando voltasse. Mas era mais do que isso. O comentário, entre elas, poderia até acontecer, mas não seria engraçado. Melanie foi algumas vezes até a praça, em horários alternados e não teve a mesma sorte de, ocasionalmente, encontrar Julian. Sentou-se debaixo da sombra da árvore solitária e nada. Quando a mãe saía e, em seguida, retornava, Melanie ficava agoniada, temendo receber a notícia de que teriam de voltar. Não antes de, pelo menos, vê-lo uma última vez. Flávia aproximou-se da filha, que estava entretida olhando de novo pela janela.

- Eu vou ter que dar um pulinho na cidade vizinha. Quer ir comigo? Eu pago um sorvete.

“Um sundae!” - imaginou. Seria até uma boa oportunidade de reciclar os pensamentos.

- Ok! Estou dentro!

- É coisa rápida e, depois, só tenho que passar no mercado pra Dona Carmélia. Afinal, a mulher está me dando uma mão cuidando dos meus fedelhos enquanto eu resolvo minhas coisas.

- Ah sim, mãe! – afirmou Melanie - Como se eu desse trabalho.

- É. Realmente você não tem nem reclamado muito. O que é muito estranho.

- No caminho, vai me contar o que veio fazer aqui?

- Você nunca se interessou pelo meu trabalho. Por que, agora, esse interesse repentino?

- Bom... É que antes não precisei perder meus preciosos dias de férias!

- A proposta é simples. Vem comigo, e a gente faz um bom programão de mãe e filha. Que tal?

- Não me pressione, porque não sei se você notou, mas tenho milhares de coisas para fazer. Vou ter que desmarcar vários compromissos. – disse Melanie, sarcástica.

- Realmente, garota, você merece um dia de descanso. – respondeu Flávia, mais sarcástica ainda.

Melanie considerou que, naquele dia, realmente, a mãe estava espirituosa. Até que seria bom acompanhá-la.

- Ok, mocinha! Combinado. Vem comigo, então?

- Claro! Mas tem uma condição.

- Lá vem!

- Quero créditos para o meu celular. Preciso ligar urgentemente para minhas amigas. Tenho novidades. E outra: não posso perder contato com a civilização.

Flávia riu. Melanie sabia que isso era um “sim” e sorriu também. A mãe entendeu que, efetivamente, a filha precisaria desse mimo. Estava longe de casa, das amigas, da Internet e, como na pequena cidade não tinha sinal de celular, estava longe disso também. Para alguém da idade dela, isso era essencial.

A cidade vizinha parecia mais amistosa. Maior, pelo menos. Tinha mais do que apenas uma minúscula farmácia, ou um diminuto cubículo no lugar de garagem, que o proprietário denominava “mercado”. Ali, o mercado não era super ou hiper como os de Curitiba, mas era possível transitar no seu interior sem precisar esfregar-se, entre as gôndolas, com alguma senhora de ancas mais vistosas. Era um alívio. Flávia estacionou em frente ao estabelecimento.

- Esta aqui é a lista da Dona Carmélia. – disse Flávia, retirando um papel do porta-luvas e entregando à filha – Você poderia ir adiantando as compras, enquanto eu vou até o cartório.

- Nada disso. – respondeu quase que imediatamente Melanie – Vou com você.

Era a oportunidade de ter um pequeno vislumbre do que realmente contribuíra para sua mudança momentânea para Monte Seco.

- Assim a gente termina tudo mais cedo e volta logo, Mel. – continuou Flávia.

- Não, mãe. – prosseguiu Melanie – Eu vim com você até aqui para acompanhá-la por onde você for. Não vou ficar aqui escolhendo... – Melanie olhou a lista de compras – ...sabão em pó do mais barato.

Flávia mordeu os lábios e balançou a cabeça. Tinha consciência do gênio que a filha possuía. Era insistente. Teimosa demais, muitas vezes.

- Ok! Ok! – concordou Flávia, ligando o carro – Vamos nós duas juntas ao cartório.

Melanie não escondeu o sorriso de satisfação. Não por ter sido atendida, ou por ter se livrado de procurar pelo sabão mais barato e, sim, por receber a chance que esperava para desvendar alguns segredos que a mãe vinha escondendo. Isso parecia interessante. Instantes depois, o Fiesta quatro portas de Flávia estacionava em frente ao cartório. Melanie analisou o local enquanto entravam pela estreita porta de ferro, já quase totalmente tomada pela ferrugem. Lugar pequeno, abafado. Em outra situação, Melanie preferiria ficar no carro, ouvindo música, do que ter que entrar num local como aquele. Mas, agora, era diferente. Iria acompanhar a mãe e ficaria de olhos bem abertos, captando toda a informação que lhe auxiliasse no desvendamento do mistério. Um homem de meia-idade, magro, com óculos de lentes excessivamente grossas, demonstrou interesse em atendê-las. Melanie seguiu Flávia até o balcão.

- Bom dia! Posso ajudar? – falou educadamente o homem.

- Sim! – respondeu Flávia – Eu liguei ontem para cá e falei com uma pessoa. Deve ter sido com o senhor.

- Ah sim! – continuou o prestativo cartorário – Mas não consegui localizar o documento que a senhora mencionou.

Flavia fez uma expressão de desapontamento, imitada por Melanie.

- Como eu lhe disse ontem ao telefone, – continuou o homem – sofremos um acidente, alguns anos atrás. Nosso cartório teve boa parte dos seus documentos perdidos em um incêndio. Mas alguma coisa, mesmo pegando fogo, ainda foi possível resgatar. É possível que esse registro que lhe interessa esteja entre eles. Vou precisar de mais um tempo para tentar encontrá-lo. É preciso certo cuidado com o manuseio desses documentos.

- O senhor poderia me precisar um prazo?

- Mais alguns dias. Uma semana, quem sabe.

- Ta bom. Não tem outro jeito mesmo. Eu espero. Obrigada.

- Eu que agradeço pela sua paciência.

O homem sorriu educadamente. Um minuto depois, as duas já estavam na rua, entrando no carro. Melanie, nitidamente chateada, bateu a porta com força desnecessária ao entrar e sentar no banco do carona.

- Por que a birra? – perguntou Flávia, surpresa com a atitude da filha.

Melanie não respondeu, mas tentava também identificar o motivo que a deixara irritada. Seria por não ter descoberto nada sobre os segredos da mãe? Ou por saber que, em alguns dias, retornaria para casa e, assim, acabariam as suas chance de rever Julian?

“Meu Deus! Por que tudo o que eu penso tem a ver com esse cara agora?” - perguntou a si mesma. Mas Melanie já sabia a resposta. Sabia o que sentia por ele.

A lista que Dona Carmélia tinha passado para Flávia não era das grandes. Mas quase todos os itens continham a mesma recomendação: o mais barato. Mãe e filha encheram praticamente um carrinho com os pedidos da dona da pousada. Duranete esse tempo, Melanie aproveitou para ligar para algumas amigas, já que ali tinha sinal de celular. Flávia ria, ouvindo as fofocas serem despejadas repetidamente, a cada nova ligação. Parece que os bônus que a filha acumulara iriam dissipar-se naquela única tarde. Melanie divertia-se, e isso para Flávia era o mais importante. A filha estava rindo e feliz.
Quando chegaram ao caixa, Melanie prometera que aquela seria a última ligação e seria bem rápida. Só iria dizer um “oi” à amiga e editar os acontecimentos na hora de contar as novidades. Flávia concordou, já sabendo que não seria uma ligação tão breve como o prometido. Melanie começara a discar quando se deparou com uma imagem que a deixou perplexa. Loucamente desejava rever Julian, mas não ali, em outra cidade, e o que era mais degradante, rindo e abraçado a outra garota.
O que fazer quando os olhos revelam-nos algo que não estamos preparados para ver? Melanie sentiu-se enjoada. Enraivecida consigo mesma por depositar seus sentimentos, sua intenções, num rapaz como aquele. Por que se sentiu atraída por ele? Por quê? O que ele tinha de tão especial? Mel não sabia responder. Exceto que ele possuía uma namorada. Flávia percebeu que algo estava acontecendo. Ela podia ouvir a voz da amiga de Melanie dizendo, repetidamente, “Alô” ao telefone. A filha estava em outro mundo, concentrada em alguma cena do lado de fora do mercado.

- Tudo bem, filha? – perguntou, preocupada.

- Sim, claro. – respondeu Melanie, parecendo voltar de um transe hipnótico.

- O que aconteceu?

- Nada, mãe. Nada.

- Sua amiga está no telefone.

Melanie compreendeu que a amiga tinha atendido a ligação. E desligou imediatamente.

- Depois eu falo com ela.

Caminhando mecanicamente, ela seguiu para fora do mercado, dando tempo de analisar o casal que caminhava abraçado. Julian vestia uma jaqueta preta.

“Tirou aquele sobretudo horrível, pelo menos.” – pensou - “Mas continua com o mesmo mau gosto. – concluiu, avaliando a garota provinciana que usava roupas ultrapassadas e ostentava um longo cabelo avermelhado.

8 comentários:

  1. Oie...
    Estou adorando a história
    Será q vc poderia terminar plz??

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  2. Oi!!!
    Estou gostando muita da sua história!!!
    Continua assim! :)

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  3. Eii ;)
    nossa, ta ficandooo muuito legal..
    aii.. to doida pra le o resto *-----*

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  4. Ahh toh adorando ler!!!
    Mtu boa a história de verdade...
    Continua a escrever e naum me diga q a garota eh namorada dle!!hahaha

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  5. quer isso? ela só viu o cara unas duas vezes e já tendo ataque de ciúmes....
    si contrala gorota homens não gostam de mulheres ciumenta....

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  6. Estou lendo este grande livro. È muito bom, prende a atenção.

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