sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Capítulo Um – Conto de farsas.

Capítulo Um – Conto de Farsas

Bom e ruim. O último dia de aula é sempre assim, dúbio. Bom, porque Melanie poderia, enfim, dar um tempo em matemática, física e gramática. Não necessariamente nas matérias, mas em Nair, Cida e Vitório, os professores que as lecionavam e que, hora sim, hora não, achavam pequenos motivos para perseguirem-na. Ruim, porque iria ficar longe da escola, da biblioteca e dos amigos. Claro, não precisaria sentir saudades das amigas mais próximas, porque essas ainda estariam presentes, certamente, em quase todos os dias das férias. Ainda teriam as tardes no shopping, os fins de semana na praia, os shows e as festinhas de aniversário. Mas sentiria falta, sim, da sala de aula em geral. Das brigas por maquiagem ou qualquer outra razão ainda mais banal, das disputas pelos melhores lugares nos jogos e apresentações da equipe de natação, das brincadeiras que só ela e as amigas conseguiam entender. Daquela menina doida, Renatinha, que não tirava o mesmo moletom com capuz. Do menino que, toda semana, recebia um novo apelido e que só sabia dormir na carteira. Da outra menina, Mayah, que só sabia falar da mesma bandinha de rock. Afinal, eles todos também eram para Melanie como uma banda; não poderia faltar um que a música desafinava.

- Mel, já deu minha hora. – disse Carol, oferecendo o rosto para o beijinho de saída – Não esquece; depois das sete, no Messenger, hein?

- Combinado. - respondeu Melanie, enquanto retribuía o beijo.

- Olha lá. Todo mundo vai entrar na mesma hora.

- Ok! Pode deixar.

Carol saiu distribuindo beijos e sorrisos. Alegre e comunicativa, a amiga de Melanie era sempre o centro das atenções. Nascera para ser miss popular. Já Melanie, sabia que jamais poderia ocupar esse posto; era mais introspectiva, mais na dela. “Amigas por acidente”, era como considerava essa relação. Até estranhou ter feito amizade justamente com a mais popular de todas as meninas. Quando chegou ao colégio, Melanie ainda usava a cor roxa no cabelo. Na verdade, a maioria de suas roupas contém, mesmo que em pequeno detalhe, a sua cor predileta. Mas, por essa época, seus cabelos tinham voltado ao castanho-escuro, embora o roxo ainda não houvesse saído da sua vida. Sempre está lá, ou na estampa da camiseta, ou no inseparável All Star.
Melanie sentiu que estava na sua hora; deu uma olhada geral na galera, sugeriu um tchau meio sem graça e saiu. A garota sentia o coração pesado ao atravessar, pela última vez naquele ano, o portão da escola. Olhou com candura os desenhos, pintados pelos próprios alunos, no muro do colégio. Ela não havia participado da criação do desenho que fora feito no início do ano, nas aulas de arte, mas simpatizava com ele. O tema escolhido fora preconceito, e ela sabia muito bem como as pessoas poderiam ser rudes, quando ainda não a conheciam. Melanie tinha consciência de que mais difícil do que fazer as novas amizades era ter que as abandonar pelos próximos meses. A garota entrara no meio do ano, quando todos estavam bem entrosados, e ela, outra vez, sentia-se uma intrusa na colmeia. A mãe, Flávia, tinha o péssimo hábito de mudar de emprego e, consequentemente, de cidade. Isso dificultava para Melanie, que sempre precisava iniciar novas amizades. Era um processo cansativo; afinal, existem pessoas de todo o jeito. Algumas favorecem a aproximação, já outras parecem ter algum tipo de repelente natural sobre a pele. Namorado, então, nem pensar! Se quisesse manter um namoro mais duradouro, teria que ser com algum dos garotos das séries de TV.
Melanie cruzou a rua e logo avistou o carro da mãe: um Fiesta quatro portas, prata, já há quase cinco anos na família, com um saliente amassado do lado direito perto da porta. Flávia disse que um descuidado qualquer batera no carro e fugiu. Mas Melanie sabia que a história podia ser outra, já que conhecia muito bem a condição de barbeira da mãe.

- Quero que a garotinha fique sabendo que faz 20 minutos que estou a esperando.. – disse Flávia, querendo parecer irritada; Melanie sabia que não devia fazer nem cinco.

- Último dia, mãe. Esqueceu? – respondeu ela, ainda parada do lado de fora.

- Quer um convite impresso para entrar?

- Não. Só estou dando uma última olhadinha. Quem me garante que será neste colégio que irei estudar no ano que vem?

- O futuro a Deus pertence minha filha. Agora rapa pra dentro, que a mim só pertence o direito de chegar na hora.

A tal “olhadinha” a que Melanie referia-se tinha nome: Bruno. Típico garoto-ímã, aquele que atrai todas as atenções para si. Durante esses meses, ele fora seu sonho de consumo da vez. Bonito, de sorriso conquistador e popular. Além de Melanie e de suas amigas, 99 % das mulheres do colégio se interessavam por ele. No restante, podia-se colocar a diretora, as professoras, as atendentes e as faxineiras. Se bem que aquela estagiária demonstrava ter uma queda bem acintosa para o lado do bonitão... Melanie, antes de sair, vira que Bruno ainda estava no pátio, perto da cantina, na já tradicional rodinha de amigos. Ela desejava, naquele instante, antes de entrar no Fiesta, poder vê-lo só mais uma vez! Poderia manter a imagem final guardada na memória, durante os próximos meses.

- Meu Deus, Mel! Tenho hora! – alertou Flávia, agora irritada de verdade – E ainda tenho que passar na escola do Nicolas.

- Ok! Calma, que já estou indo.

Melanie deu a volta no carro, mas sem perder a atenção no portão de saída. Foi o mais devagar possível; mas era um Fiesta, um carro pequeno, não um Hammer. Nem sinal de Bruno. Teria que entrar de qualquer jeito.

“Ah! Que bobagem! Ficar esperando um cara que não me deu moral nenhuma nesses cinco meses.” – pensou Melanie enquanto entrava no carro.

- Até que enfim! - disse Flávia, ligando a chave e a seta para saída – Pensei que queria criar raízes aí fora.

- Já disse; só estava me despedindo. – respondeu ela, um pouco chateada – Agora, então, já pode ir, Schumacher.
Flávia balançou a cabeça sorrindo.

Instantes depois, estavam as duas seguindo pelas avenidas de Curitiba. O colégio de Melanie dava uns 20 minutos, mais ou menos, da escola na qual Nicolas, seu irmão, estudava. Que, por sua vez, dava 20 minutos da casa em que moravam. A escola do garoto ficava entre os dois pontos. Nicolas, na verdade, era meio-irmão de Melanie, filho de Edgar, ex de Flávia que a abandonou uns dois anos atrás, para voltar com a ex-mulher que já o tinha abandonado para ficar com outra mulher, antes de conhecer Flávia. Parece doideira, confuso; mas é a vida. O garoto estava do mesmo jeito, parado, sozinho, encostado ao muro, esperando. Ele viu o carro e correu para encontrá-las. Flávia nem havia estacionado direito, e Nicolas já estava a postos para entrar.

- Viu? Isso é ser eficiente. – disse Flávia, com orgulho contido.

- Não, mãe. Isso é ser antissocial. – refutou Melanie, enfatizando a conduta do irmão, já que, toda vez, ele estava no mesmo lugar, sozinho, esperando as duas; enquanto os seus colegas permaneciam sempre em grupos esperando os pais.

- Nossa, menina! Morderam você na escola hoje?

- Difícil, mãe. Para morder tem que se arriscar a chegar perto.

- E pensar que você está estudando para, um dia, quem sabe, virar chefe! – disse Flávia, já olhando pelo retrovisor se o filho havia colocado o cinto – Ai daquele que for seu subalterno!

“Bem que poderia ser aquele garoto metidinho da escola...” – pensou Melanie, considerando ser uma boa alternativa para se vingar de Bruno.

- Como foi na escola hoje, filho? – perguntou Flávia, mais uma vez olhando para o filho pelo retrovisor.

- Até que foi bom. – respondeu Nicolas – Me acertaram uma pedrada na cabeça.

Flávia olhou rapidamente para trás, quase se desconcentrando do trânsito. Ela tentava visualizar algum ferimento. Melanie olhou para o irmão pensando: “Se esse foi um dia bom, dia ruim é só se cair um satélite da Nasa na cabeça dele.”

- Machucou você, meu filho? – perguntou a mãe, preocupada; agora olhando a cada instante pelo espelho.

- Não, mãe. Eu estou legal. – disse ele, despreocupado.

- Por que fizeram isso? – perguntou Melanie.

- Eu bati em um menino.

Melanie riu e recebeu um olhar de reprimenda da mãe.

- Por que você fez isso, garoto? – perguntou Flávia, não escondendo a irritação.
- Ele falou que você e meu pai não moram juntos por culpa minha.

Flávia mordeu os lábios. Melanie percebeu que a situação mexia com o ânimo da mãe. Nunca foi uma situação fácil, nem para ela, nem para Nicolas. Apostara num relacionamento que só lhe trouxe complicações. Mas o que mais o fedelho poderia querer? Ele sempre podia ver o pai quando quisesse; era só ligar. Edgar morava em outra cidade, mas ainda assim era perto. Agora, ela não tinha a mesma sorte. Nem mesmo a voz do pai por telefone poderia ter. Nem uma foto sequer para olhar. Assim mesmo, de vez em quando, sentia falta do homem que nunca conhecera.
A casa em que moravam, nessa época, era um pouco menor. Melanie, mesmo assim, apreciava-a mais do que a anterior. Na entrada da cidade, de quem vem de Campo Largo, pouco depois do Parque Barigui. A cor bege-claro da casa contribuía com a preferência da garota. Tinha apenas dois quartos e o básico; sala, cozinha, banheiro, mas já era suficiente para Melanie sentir-se bem. Não tinha boas lembranças da última casa em que vivera, na última cidade de onde vieram: Londrina. Sofreram uma invasão que traumatizou a todos. Um marginal entrou na casa, mesmo eles estando dentro, dormindo. O bandido não roubou nada; nem mesmo a polícia soube explicar como ele entrara, já que nada foi arrombado. Mas Melanie ainda se lembrava da real presença de uma pessoa, dentro do seu quarto, observando-a ao dormir. A garota acordou por dois motivos: era uma noite quente de verão, e ela sentiu o corpo todo gelar de repente. E, também, por ter o sono leve, pôde sentir uma respiração descompassada e ofegante próxima a ela. Estava escuro. Não conseguiu visualizar o rosto daquele que estava oculto pelas sombras. O pequeno facho de luz que entrava pela janela apenas revelava sua postura. Com um terno, parecendo requintado, ele estava sentado ao lado do armário, com as pernas elegantemente cruzadas. Melanie teve o ímpeto de clamar por socorro. O invasor pareceu perceber e levantou-se. Ela fechou os olhos e gritou. Quando novamente abriu-os, o invasor não estava mais lá. Flávia acordou e correu em desespero para o quarto da filha; chamou a polícia e, tempo depois, os policiais vieram, remexeram tudo e nada encontraram. Chegaram a sugerir que fora apenas um sonho, um pesadelo. Mas Flávia tinha o discernimento de saber quando a filha não falava a verdade. O que, certamente, não era o caso.
Melanie não se contentou somente com o crédito recebido da mãe. Utilizando seu instinto, adquirido por algumas horas assistindo CSI, encontrou algo que os policiais não perceberam. Debaixo da cadeira, bem escondidas no assoalho, algumas gotas de um líquido que lembrava sangue. Melanie sabia que, até antes de se deitar, não havia ali gota de coisa alguma. Talvez o tal invasor estivesse ferido. Ou, pior, ferira alguém. Dias depois, ela sentiu falta de um objeto: uma caixinha de música que mantinha guardada. Era de sua mãe, que passou para ela quando nasceu. Estava guardada porque tinha quebrado, e a sua melodia, tão familiar à Melanie, não podia mais se ouvir.
Como de costume, a chave da porta sempre emperrava. Flávia girava com cuidado, com medo de quebrá-la. Depois, daria um trabalhão ter que trocar a fechadura, por causa do pedaço da chave que ficaria emperrado. Era serviço para homem, e o único da casa mal sabia consertar os Transformers que possuía. Melanie já entrou abandonando a mochila no sofá enquanto procurava o controle remoto da TV. Nicolas correu para o banheiro.

- Hei, mocinha! – disse Flávia, apertando o botão da secretária eletrônica – Não sabe onde guarda isso, não?

- Claro que sei, mãe. – respondeu ela, pegando de novo a mochila – E “isso” é uma mochila.

Flávia apenas fez mais um gesto apontando a porta do quarto. Melanie seguiu arrastando a mochila, enquanto ouvia a voz mecânica da secretária avisando que tinham duas mensagens. Curiosa, como sempre, ela parou no corredor para ouvir.

“Oi, Flávia... É a Leonora...” - Leonora era colega de trabalho de Flávia. “Seguinte, uma e meia tem reunião aqui na imobiliária.”

Flávia já trabalhara em muitos ramos de atividade. Inclusive já fora revendedora de cosméticos e até trabalhou com massoterapia. Agora, era corretora de imóveis. Uma de suas tantas habilidades adquiridas forçosamente.

“E já vou adiantando...” - a mulher diminuiu o tom da voz como se cochichasse - “O Seu Mathias está fulo da vida com você. Acho que você já deve saber o que irritou tanto o homem, não é?”

Flávia até gostaria de não saber. Mas o seu fraco desempenho, depois de tantas promessas de ótimos negócios, alardeado por ela no início da contratação, seria a razão do mau humor do chefe.

“Beijão, querida, que já estou indo almoçar. Até depois.”

Melanie pensou, depois do click final da mensagem, que seria bom que o almoço daquele dia fosse com talheres de plástico. Imaginando já, antecipadamente, que o mau humor de Flávia eclodiria por qualquer detalhe. Talvez a segunda mensagem pudesse amenizar a situação. Poderia ser uma boa notícia. Melanie lembrou que sua mãe tinha um tique nervoso, principalmente quando era por motivo de raiva. Flávia piscava, sem parar. A garota reparou que a mãe já parecia o cursor do Word, quando apertou o botão para ouvir a segunda mensagem. O que vinha do telefone assemelhava-se a uma respiração, quase inaudível, somado ao barulho de quando alguém passa o aparelho de uma orelha para outra. Mais nada. Por alguns longos segundos, o mesmo som.

- Tem gente que não tem o que fazer. – disse Flávia, considerando ser um trote, ou algo assim.

Ela apontou o dedo indicador no botão de apagar.

“Olá...” Uma voz fraca. Grave, daquelas que se demora um pouco a identificar se é de homem ou mulher, fez-se ouvir. “Sou eu...”

Era uma mulher, aparentando idade avançada. Ela não mencionou o nome, mas Melanie percebeu que Flávia já a havia identificado, pois foi se soltando levemente no sofá, como se estivesse com medo de cair.

“Sei que não deveria ligar... Mas não sei o que fazer...”

Flávia levou a mão à boca. Sua mão tremia. Nicolas saiu cantarolando do banheiro e seguia para sala. Melanie segurou-o pelo braço, quando passava por ela, e tapou-lhe a boca.

- O que foi? – disse Nicolas.

Melanie apontou para a mãe e fez sinal para que o garoto permanecesse em silêncio.

“Tudo está mudando por aqui... Não tenho mais condições de passar por tudo aquilo de novo...” A mulher pronunciava com dificuldade as palavras entre tosses fortíssimas. “Preciso que você me ajude agora... Por favor... Assim como eu lhe ajudei um dia...” A mulher foi tomada de uma tosse ininterrupta que a dificultava de pronunciar qualquer palavra. A única frase que se pôde ouvir antes de o telefone desligar foi um “Venha, Flávia! Depressa!”

Flávia desligou, empurrando a secretária eletrônica, com repulsa. Parecia que tinha criado nojo dela. Afundou as mãos nos cabelos e permaneceu imóvel. Para Melanie, já era mais do que suficiente perceber o estado que a mãe ficara depois de ouvir a mensagem, mas a mulher idosa sabia para quem tinha ligado. Ela disse um nome no fim da gravação. Disse o nome de Flávia. Com certeza, não era um trote.

Durante seus 16, quase 17 anos, de vida, Melanie já estava mais do que habituada ao jeito da mãe. Sabia o que a deixava feliz, triste, magoada e com medo. Definitivamente, o medo a estava dominando. Ficou sentada lá no sofá por um bom tempo, quase na mesma posição. Melanie improvisou o almoço, um macarrão básico e uma salada rápida, já que isso era sempre a mãe que providenciava. Flávia não almoçou, nem veio à mesa. Melanie serviu Nicolas e até colocou comida em um prato para si mesma, mas já sabendo que seria perda de tempo. Não tinha fome também. Melanie ficou pensando em quem seria aquela mulher... E por que apenas de ouvir sua voz, em menos de um minuto de gravação, Flávia ficara transtornada daquele jeito. A garota não sabia nem por onde começar a encontrar respostas, além das que poderiam ser dadas pela própria mãe. Mas ela não teria coragem de perguntar nada.
Então, a garota esperou Nicolas terminar. Durante esse período, ficou ali, sentada, separando com o garfo a comida no prato. Detestou o clima pesado que se instaurou na casa àquela hora. Estava absorta em seus pensamentos quando Flávia entrou na cozinha, com uma expressão nada amistosa.

- Vou sair. Preciso resolver algumas coisas. – disse ela, arrumando o interior da bolsa como que procurando algo – Cadê minhas chaves?

- Está na sua mão, mãe. – respondeu Melanie, notando que Flávia estava ainda bastante nervosa - Tudo bem com você? – arriscou perguntar a menina.

- Está sim. – respondeu ela, esforçando-se para soar verdadeira – Fique tranquila. Só cuide bem do seu irmão.

- Isso eu faço sempre. – completou Melanie, percebendo tardiamente que não era uma boa hora para instigar a mãe.

Flávia deu um beijo em Nicolas que estava fazendo um desenho sobre a mesa e, na sequência, ficou de frente à Melanie; abraçou-a apertado. A garota ficou com os braços esticados, imóveis, envolvidos pelos da mãe. Ela estranhou essa repentina manifestação de afeto. Flávia olhou-a nos olhos e saiu. Melanie considerou que aquele, realmente, não estava sendo um dia normal.
Tinha passado mais de meia hora, quando Melanie lembrou-se do combinado com a galera da escola de estarem todos no mesmo horário no Messenger. Mas não tinha mais importância. Ela agora se preocupava com a demora da mãe, que já deveria estar em casa há uma hora. Sentou-se na frente de casa, na elevação da mureta, segurando o celular na esperança de receber uma chamada, já que o telefone da mãe só caía na caixa-postal. Algum imprevisto acontecera... Flávia nunca se atrasava. Melanie deixou Nicolas vendo TV. Ele ficava entretido por horas, assistindo ao Discovery Kids. O seu desejo era ver logo o carro prateado dobrar a esquina. Era horário de verão, e a cor avermelhada do horizonte estava se dissipando, dando lugar a um céu negro, cravejado de brilhantes. Alguns minutos se passaram, e a garota levantou-se. Sentiu-se um pouco tonta. Aquela sensação de ficar vendo pequenas luzes depois que se levanta subitamente se apossou dela. Labirintite, coisa assim. Um barulho estranho chamou sua atenção. Pareciam duas espadas trocando golpes.

“Ah, esse peste! Tá assistindo filme violento de novo.” – pensou, seguindo para dentro de casa. “Depois sai batendo nos colegas de escola e não sabe por que.”

Entrou na sala, e o som cessou. Nicolas estava deitado no sofá vendo os desenhos. Ele nem tinha se mexido! Não poderia mudar rapidamente de canal, mesmo porque o controle da TV estava longe. Era estranho, mas Melanie deu de ombros e saiu novamente.

A rua da casa onde moravam era bem tranquila. Arborizada. Inclusive, tinha uma grande árvore bem na frente do muro, quase de frente ao portão. Isso dificultava para quem estava fora olhar quem a parte de dentro, e o mesmo acontecia ao inverso. Por isso, ela estava do lado de fora do muro, na calçada. Quanto antes visse a mãe chegando, acabaria logo sua angústia.
Passou mais uma hora, e já roía as unhas sem parar. Entrou novamente, e Nicolas dormia, mesmo com o som alto da TV. Saiu outra vez. Melanie estava muito nervosa e ficava ainda mais a cada tentativa em vão para o celular da mãe. O único movimento de carros e de pedestres era a alguns quarteirões adiante, numa rua transversal. Uma avenida. Na frente da casa, a única agitação além do da garota era dos pequenos besouros batendo, insistentemente, contra as lâmpadas dos postes. De repente, ela ouviu um ruído, como som de passos. Olhou para a direção de onde o som partira e viu um sujeito parado na esquina. Ele parou de perfil, em cima do meio-fio, igual quando alguém espera para um carro passar, mas não havia carro algum vindo por aquela rua. Colocou as mãos nos bolsos. Estava bem vestido: jeans preto, camisa branca e usava sapatos caros. Tinha cabelos castanhos. Quase loiros. Desgrenhados, mas na moda. Bonito. Charmoso. Até demais. Tanto que Melanie não conseguiu tirar os olhos dele.

“Nossa! O que o irmão mais novo do Brad Pitt está fazendo aqui?” – pensou Melanie.

Ele riu. Baixou a cabeça levemente e olhou-a por baixo.

“Credo! Será que eu falei alto demais?” – pensou de novo.

Ele continuou olhando. Ela, evidentemente, só o observava com o canto dos olhos. O homem tinha um sorriso enigmático. Uma mistura de cinismo e pureza. Satisfação e desejo. Era mais do que um garoto-ímã. Era irresistível.

Ele tirou algo do bolso; parecia um chaveiro de carro. Apertou o botão, e o alarme de um veículo estacionado um pouco mais longe desligou. Nervosa pela demora da mãe, Melanie nem havia notado o carro importado estacionado. Um Lamborghini Gallardo, vermelho. Imponente. Daqueles que é difícil ver por aí. A garota olhou na direção do belo estranho. Ele permanecia olhando.

“O que ele está pensando? Por que não para de olhar pra mim?” – pensou a garota. Logo ela, uma garota simples. Sentada sozinha em frente a sua casa. De cabelo preso e cara lavada. De calção jeans, camiseta básica e chinelo. Chinelo? Ela sentia-se uma piada!

Melanie estava a ponto de entrar. Ela queria ficar ali, observando e sendo observada por aquele estranho, mas sentia vergonha de si mesma. Ficou pensando por que as pessoas ficam tão desleixadas quando estão em casa. Nunca se imagina que situação como essas irão acontecer? De repente, o Fiesta prata quatro portas convergiu para o lado da casa. Era Flávia. “Graças a Deus!” – agradeceu Melanie.

Aliviada, ela olhou na direção da esquina, e o belo estranho não estava mais lá. A garota percebeu o farol do Gallardo ligar. Flávia estacionou bem em frente a sua casa. Melanie levantou, pois o Fiesta ficara bem na sua frente. O carro importado estava vindo. Ele, o estranho, passou com o vidro do carona abaixado e olhando para Melanie. Lançou sobre ela mais uma vez seu sorriso enigmático. Depois, seguiu pela direção contrária de onde Flávia tinha vindo. A mãe, desconfiada, desceu do carro e percebeu a direção que os olhos da filha endereçavam.

- O que é isso, Mel? – disse ela, batendo a porta.

- Isso o que, mãe?

- Quem era esse aí? – perguntou Flávia, desconfiada.

- Como eu vou saber?! Devia estar só passando pela rua. – respondeu, desconversando.

Flávia fez um sinal para que Melanie olhasse para o seu carro. A garota, então, deu-se conta de que tinha uma pessoa dentro: Leonora. Melanie bloqueava a saída da amiga de trabalho de Flávia. A filha até tinha estranhado a mãe não ter pedido para que ela abrisse o portão para guardar o carro. Melanie retirou-se da frente da porta, e Leonora saiu. Era bem baixinha e magra. Estava usando um tailleur marrom, com uma saia evasé e um coque no cabelo. Parecia que tinha tomado banho de perfume.

- Oi, Leonora. – Melanie cumprimentou a mulher chamando pelo nome; ela havia dito que detestava quando a chamavam de “Dona” ou “Senhora”.

- Oi, lindinha. – respondeu Leonora tão efusiva que Melanie pensou que a mulher apertaria as suas bochechas.

- A Leonora está aqui, porque veio me dar uma ajudinha. – disse Flávia.

A moça sorriu tanto que a garota pôde ver o amálgama dos seus dentes do fundo.

- Vamos entrar, então. – sugeriu Flávia.

A amiga do trabalho entrou primeiramente; ela passou por Melanie que quase tonteou ao sentir o forte perfume entrar em suas narinas. Flávia entrou atrás e olhou para filha com uma careta, seguido de um sinal abanando o nariz. A garota imaginou o que a mãe devia ter sofrido dentro do carro. Melanie estava prestes a entrar quando olhou na direção de onde o belo estranho estivera parado. Algo no chão lhe chamou a atenção. Ela olhou para a porta de entrada da casa. Leonora e a mãe já tinham sumido.

“Vou ver o que é.” – pensou ela, já mudando o primeiro passo na direção da esquina.

Quando chegou perto, abaixou-se e pegou um objeto. Era uma rosa. Uma linda rosa vermelha. Melanie cheirou-a. A sua fragrância era marcante. Seria possível que havia se misturado com o cheiro do belo estranho? Ao menos, tinha cheiro de mistério. Ela entrou escondendo a rosa. Conhecendo bem a mãe, sabia que seria submetida a um batalhão de perguntas. Flávia estava junto ao sofá, custando a acordar Nicolas. Leonora pôs-se sentada no estofado menor, olhando um álbum de fotos.

- Faz tempo que ele dormiu aqui? – perguntou Flávia, lançando aquele olhar do tipo “Não lhe pedi pra cuidar dele?”

- Acho que sim. – respondeu Melanie, ainda com as mãos atrás das costas – Eu estava lá fora esperando você dar um sinal de vida.

Nicolas acordou ainda muito sonolento. Flávia considerou por bem não discutir com a filha. Afinal, tinha uma pessoa praticamente estranha dentro de casa. Era também por uma falha muito pequena para se iniciar uma discussão, uma vez que as duas tinham conhecimento de que Nicolas vivia se jogando nos cantos para dormir. E, mais ainda, que Melanie tinha razão. Ela, Flávia, sumira e não dera satisfação alguma a respeito, até aquele momento.

- Então, senta aí que precisamos conversar. – disse Flávia, sem escolher as palavras.

“Ah! Não.” – pensou, imediatamente, Melanie, já ciente do que essas palavras queriam dizer. Já as tinha ouvido diversas vezes.

- Não! Vou ficar de pé. – respondeu ela, já prevendo a própria reação – Pode falar.

- Trouxe a Leonora aqui, – Flávia continuou – porque vamos precisar ficar longe uns dias, e ela vai cuidar da nossa casa.

A mulher parou de ver as fotos e ficou olhando para Melanie; parecia querer ouvir palavras de agradecimento por seu gesto.

- O quê?! – perguntou a garota num tom mais alto, levando as mãos para frente, esquecendo que segurava a rosa – Longe uns dias?! Como assim?!

Leonora levantou e veio em sua direção. Ela envolveu a rosa com as minúsculas mãos.

- Nossa! Que linda! – disse a mulher, cheirando-a.

Melanie ficou atenta, preocupada que a tocasse com mais força e a despedaçasse. Leonora olhou-a, sorrindo, e voltou a sentar. Melanie imaginava se a atitude da mulher era a de alguém que nunca recebera uma rosa sequer em toda a vida...

- Aconteceu uma coisa, e preciso que vocês me acompanhem. – continuou Flávia, olhando para rosa.

- Mas para onde a gente vai? – perguntou Melanie, colocando as mãos para trás novamente.

- Quando a gente chegar lá, você verá, Julieta. – respondeu a mãe, com a cara torta.

“Só que a Julieta, pelo menos, sabia o nome do Romeu.” – pensou a garota.

- Bom... Sendo por alguns dias. Beleza.

- Só por uns dias, sim. Eu já conversei com a Leonora e expliquei tudo para ela como funciona aqui. Ela vai dar comida para os peixinhos do Nic. Vou deixar dinheiro para as contas que forem vencer... Essas coisas.

Leonora gesticulou com a cabeça, demonstrando que tinha tudo anotado.

- Se tiver uma recomendação, pode dizer. – falou a prestativa moça.

Melanie olhou-a com um olhar grato. Afinal, ela cuidaria de seus pertences. Com certeza, essa viagem repentina era algo relacionado ao trabalho da mãe. Ela prometera mundos e fundos para o tal Seu Mathias. Agora, estava mais do que na hora de cumprir. Claro que, obviamente, se estivessem de volta o quanto antes.

Mesmo acordando mais tarde do que nos outros dias, Melanie sentia-se um trapo. Obrigou-se a dormir tarde, já que a amiga da mãe, Leonora, foi embora depois da meia- noite. Ficaram ela e Flávia jogando conversa fora e tomando vinho. Era um vinho que Flávia guardava já desde os tempos de Edgar. Depois de uma garrafa inteira, o volume das conversas e risadas alterou-se, ficando cada vez mais alto. Nicolas, para variar, dormia até com uma britadeira funcionando a mil ao do lado da cama. Melanie já não tinha essa sorte. Mesmo que seu quarto fosse blindado, ela não conseguiria dormir com tanto barulho. A risada de Leonora era estridente. E, quando ela começou a falar as primeiras bobagens, de caráter mais adulto, Flávia sugeriu que precisava dormir. Chamaram um táxi, e a desmedida e feliz Leonora foi para casa cantarolando.

O momento do café-da-manhã não era o que Melanie tinha planejado durante toda a semana. Imaginou, no seu primeiro momento de férias, que iria acordar feliz, pronta para um dia cheio de atividades com as amigas. Mas não sem antes, de manhã ainda, dar uma passadinha na biblioteca municipal, para garantir uns dois bons romances. Depois, compraria mais outros dois em uma livraria. Afinal, o dinheiro que ela ganhava da mãe, para cuidar da casa e do irmão enquanto Flávia trabalhava, possibilitava-a gastar um pouquinho com suas maiores paixões. Dependendo do livro, ela lia em três ou quatro dias. Mas levava muito mais tempo para se livrar da sensação, boa ou ruim, que ele trazia-lhe. Adorava se fazer passar pelas heroínas daquelas histórias... Mesmo das mais tristes.
Tombou seu corpo na cadeira e ficou olhando para a xícara à sua frente. Melanie desejava ter, naquele momento, o poder da telecinesia. Colocaria, assim, seus olhos sobre a garrafa térmica, e ela seria aberta, seguindo já quase deitada até a sua xícara; iria enchê-la de café. Nicolas tomava o café como todos os dias, fazendo os mesmos barulhos irritantes. Flávia estava de pé, parada, com uma xícara na mão, olhando pela janela. Ela nem notou a filha chegar. Estava entretida com seus pensamentos.

- A mamãe falou que nós vamos viajar. – disse Nicolas.

“Grande coisa.” – pensou Melanie, respondendo-o com uma careta.

A mãe virou-se, enfim, percebendo sua presença.

- Dormiu bem? – perguntou Flávia, tomando, em seguida, um gole do café; pela cara que fez, o café já devia estar frio há muito tempo.

- Dormi. – respondeu Melanie, não querendo importunar a mãe com seus problemas.

- Ainda tenho umas coisinhas para resolver. Depois a gente pega a estrada.

- Posso saber do que se trata?

Ela permaneceu pensativa. Parecia que ainda não tinha uma resposta.

- São coisas... – ela pensou mais um pouco – ...do meu trabalho.

- E por que a gente precisa ir também?

- Porque são meus filhos. Vou ficar uns dias fora e quero vocês debaixo da minha visão.

- Eu quero ir junto. - disse Nicolas.

“Puxa-saco!” - pensou Melanie, enquanto observava a mãe passando a mão pelos cabelos arrepiados do irmão.

- Preferiria ficar aqui. – disse Melanie, mesmo ciente de que não haveria outra solução para ela - A sua amiga não vai cuidar da casa? Então, cuida de mim também.

- De jeito nenhum. – Flávia respondeu já dando indícios de que o mau humor da manhã a tinha alcançado bem naquela hora – Vocês dois vão comigo. A Leonora só vem dar uma passadinha aqui, dia sim, dia não.

Melanie considerou melhor não prosseguir com a discussão. Ela sabia que iria perder. O argumento da mãe era sempre o mais eficiente: o tom de voz mais alto.

Flávia, antes de sair pela manhã, avisou os filhos de que, dependendo das circunstâncias, não viria para o almoço. De fato, ela não veio. Já tinha passado das duas da tarde, e Melanie estava completamente aborrecida, em frente à TV, passando um a um dos canais. Nada lhe prendia a atenção. Até que surgiu na sua mente a imagem do estranho da véspera, à noite. Possivelmente, fora a primeira e única vez que o veria. Foi até o seu quarto. Colocou uma calça jeans. Depois procurou uma blusinha de que gostasse. Jogou longe o chinelo e colocou um tênis. Parou diante do espelho. Soltou os longos cabelos castanho-escuros e ajeitou com cuidado os fios. Pegou seu estojo de maquiagem e fez uma produçãozinha básica. Estava pronta para sair. Passou pelo pequeno corredor em direção à sala; notou que Nicolas jogava no computador. Esse era mais um dos seus hábitos saudáveis.

- Já volto. – avisou para as paredes, já que Nicolas nem se mexeu, além de apertar os botões do teclado, enquanto mordia a língua com o canto da boca.

O movimento durante o dia era mais vigoroso. Carros e pessoas passavam mais constantemente. Durante quase meia hora em que ficou ali, Melanie não viu nem sinal do carro vermelho ou do seu dono. Sentiu-se uma idiota, ali fora, esperando um homem passar. Um cara que nem mesmo conhecia. Entrou chateada.
“Vou para outro mundo mais feliz.” – pensou ela, já seguindo para sua coleção de livros, desejando tomar o lugar de uma das suas fiéis companheiras em seus mundos perfeitos. Não deu tempo nem de pegar o primeiro livro, e o telefone tocou.

“Minha mãe”. – pensou.

Nicolas estava concentrado demais na disputa do jogo, já que ele era sempre o primeiro a sair correndo e atender. Melanie foi até o aparelho e atendeu.

- Alô! - do outro lado da linha, o silêncio - Alô! – repetiu.

Nenhum sinal.

- Ok! Vou desligar.

Melanie utilizava sempre a mesma tática; falava que iria desligar e continuava ouvindo. Numa dessas, a pessoa manifestava-se. Ninguém respondeu. Só tinha uma alternativa; desligar de verdade. O telefone já estava a alguns centímetros distante da sua orelha, quando ouviu um pigarro. Era um pigarro que ela já tinha ouvido antes. Era o da mulher da ligação do outro dia.

- Quem é? – perguntou Melanie, um pouco nervosa.

A mulher talvez tenha percebido a alteração na sua voz e entendeu que a garora a tinha reconhecido.

- Você é a filha da... – a mulher hesitou um pouco e concluiu com aquela voz rouca, cavernosa – Flávia?

- Sou. – respondeu Melanie - O que a senhora quer com a minha mãe? – a garota jogou logo a pergunta.

- Querida, tem muita coisa que preciso resolver com sua mãe. – a mulher tinha dificuldade para dizer frases com mais de três ou quatro palavras, sempre as finalizando com uma tosse – Ela ouviu meu recado ontem?

- Ouviu sim. Nunca vi minha mãe daquele jeito.

- Onde ela está agora?

- Foi trabalhar... Eu acho.

- Você sabe me dizer se ela está vindo me encontrar?

- Acredito que não, senhora. Acho que só foi trabalhar.

- Ela comentou algo sobre uma viagem?

- Comentou. Nós vamos viajar em breve.

- Disse para onde vocês irão?

- Não, senhora.

- Então, ela está vindo para cá mesmo. – a mulher falou como se estivesse afirmando para si mesma – E vai trazer a filha.

- Claro que eu vou junto. Minha mãe não me deixaria... – nem deu tempo de terminar, e Melanie ouviu o barulho do telefone sendo desligado.

A mulher mal-educada desligara na sua cara.

Quando Flávia chegou, Melanie considerou melhor não mencionar o telefonema da mulher misteriosa. Não gostaria de ver a mãe do mesmo jeito que ficara ao ouvir, na véspera, aquela mensagem.

- Então, meus lindos? – entrou dizendo Flávia, enquanto beijava a cabeça dos filhos – Sentiram falta da mamãe aqui?

- Eu senti. – disse Nicolas sorridente, ganhando mais um beijo da mãe.

Melanie olhou para o irmão e balançou a cabeça. “Como consegue ser tão puxa-saco, moleque?” – pensou.

- Alguém ligou pra mim? – perguntou Flávia.

- Não. – respondeu Melanie, sem mirar os olhos da mãe. Se assim o fizesse, com certeza, entregaria que estava mentindo.

- Ligaram sim. – revelou Nicolas, com ar superior – Aquela mesma mulher que não para de tossir.

“Ferrou!” – pensou Melanie, encolhendo-se no sofá. “Esse fofoqueiro ouviu.”

- Quem de vocês que atendeu? – irritou-se Flávia.

Nicolas acenou com a cabeça, apontando Melanie.

“Peste! Você me paga!” – prometeu Melanie, fuzilando com os olhos o irmão.

- Não acredito, Melanie! – explodiu Flavia – Você não iria me dizer nada?

- Claro que não, mãe. – respondeu ela, gesticulando – Não se lembra de como você ficou da última vez?

- Você não pode esconder essas coisas de mim! – esbravejou Flávia, segurando a filha pelos braços – Nunca mais tente esconder nada de mim.

- Calma, mãe! – respondeu, assustada, Melanie – É só uma ligação.

Flávia soltou-a e percebeu o quanto tinha se alterado.

- Ela ligou, eu atendi, ela perguntou por você, e eu disse que você não estava. – explicou Melanie – Ela desligou. Só isso.

Flávia passou as mãos pelos cabelos e respirou fundo. Em seguida, olhou para Melanie e passou a mão pelos cabelos da filha.

- Está bem. – disse Flávia calmamente – Se por acaso essa mulher ligar de novo, e eu não estiver em casa, não fale mais com ela. Entendeu?

Melanie anuiu com a cabeça positivamente.

- Só eu falo com ela. – Flávia mordeu os lábios – Só eu!

A mãe respirou fundo outra vez e pegou a pasta da imobiliária. Teve a intenção de sair da sala. Antes de passar pela porta, virou-se para os filhos.

- Nós vamos amanhã. – anunciou – Não posso mais esperar.

E saiu. Melanie olhou para o irmão. Nicolas mostrou-lhe a língua.

- Isso mesmo, seu cobrinha. – sussurrou Melanie – Qualquer dia desses, eu corto fora essa língua afiada.

Nicolas deu de ombros e voltou a ver TV. Melanie colocou os neurônios para funcionarem. O que Flávia tinha de tão grave para esconder? Afinal, ninguém estouraria assim só por um simples telefonema. De qualquer forma, poderia estar próxima de descobrir alguma pista, pois a tal viagem do dia seguinte não parecia mais ser em função só do trabalho da mãe; parecia ter a ver com a mulher da ligação.

8 comentários:

  1. Muito misterioso esse capitulo, naum??
    Mais misterioso soh o telefona..quem será essa veiaa??

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  2. Puts
    tou començando hj o ler
    essa história que já famosa
    na net e pelo o que eu tou vendo
    é realmente boa
    vou ler tudo o mais rapido que poder
    bjos adorei
    ;*

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  3. Caraca essa historia ta muito misteriosa...
    O telefonema daque mulher me deichou muita curiosidade eu tenho que ler o mais rapido que poder e sem perder a atenção


    OBSS:to deichando anonimo por ñ ter outro jeito mais meu apelido é DIEL
    flw...

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  4. Nossa muito mistério...
    Mas a história é realmente muito boa!!
    Comecei a ler hoje e achei incrível!! Vou tentar ler o mais rápido que puder!!
    Adorei

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  5. roubar a idéia dos outros, é algo repugnante, apague já essa postagem seu ser deploravel, ser imundo.

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  6. Não Niira,
    o tal fantasies deve ser um fã radical de Crepusculo e acha que tudo que sair sobre o tema é roubo da Steph, mal sabe que muita gente já escrevia sobre isso bem antes dela...

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  7. Ola! Estou lendo o seu trabalho e estou adorando. Parabéns pela criatividade! Também sou escritora amadora e muitas vezes ouvi minhas leitoras e amigas fazerem comparações do meu livro com a série ''Mediadora''da Meg Colbat'',mas graças a Deus depois de lerem a história a fundo os comentários pararam. Porque cairam na real que isso era nada a ver.

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