sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Capítulo Nove – Leve Desespero

Capítulo Nove – Leve Desespero

A lentidão do grandioso portão abrindo-se fez com que Melanie sentisse espasmos por todo o corpo, decorrentes da situação aflitiva a que ela mesma havia se imposto. Se tivesse ficado na pousada, ou então acolhido o conselho da nova amiga, não estaria ali, paralisada, tentando ter um vislumbre do que estava para surgir de dentro da muralha. Incomodada com a situação, a garota olhou para trás, na direção da amiga; ela permanecia no mesmo lugar, e Melanie imaginou que Ariela estaria também quase colocando o coração para fora da boca. Ao retornar sua atenção para o portão, Melanie viu o avantajado Wladmir surgir. Mal encarado, trajava roupas que pareciam de outra época e que deveriam ter sido confeccionadas de modo artesanal. O copioso homem olhava para ela com animosidade.

- O que querer? – disse Wladmir, sem rodeios.

Um amontoado de palavras revirou-se em sua mente, mas com certeza não teria condições momentâneas de responder. Ficou sem reação diante de tal criatura assustadora. O alívio para a voragem de sentimentos que a tomava por completo foi avistar por, detrás das pernas do avolumado homem, a figura mirrada de Julian, que carregava em seu semblante um misto de surpresa e preocupação. Seu desassossego era por ela, Melanie, estar ali e, principalmente, porque todos os familiares sabiam da sua presença.

- O que você está fazendo aqui?! – perguntou Julian, visivelmente nervoso.

- Nossa! Essa parece ser a sua frase favorita.

Melanie lançou ao rapaz um sorriso tímido. Julian permaneceu apreensivo.

- Você me apontou a direção em que morava. Não achei que faria mal vir visitá-lo.

As palavras de Melanie adentravam na mente de Julian, mas este não as absorvia; estava com o pensamento voltado à possibilidade de Agnes chegar a qualquer momento.

- Me desculpe. – lamentou Melanie – Vejo que não foi uma boa ideia ter vindo.

- Tem razão. É melhor você ir embora. - Julian segurou em seu braço quase a forçando a retornar - Depois a gente se fala, e eu lhe explico melhor o que está acontecendo.

Melanie olhou desapontada para Julian enquanto subia na bicicleta. Mais uma vez, sentiu-se profundamente arrependida por ter cometido o erro de tê-lo procurado.

“Que idiota!” - pensou de si mesma. Afinal, não era de fazer esse tipo de tolice.

Nem havia dado tempo de dar a primeira pedalada e, bruscamente, suas ponderações foram interrompidas. Em um salto surpreendente, sobre-humano, Marcus irrompeu de cima do muro e caiu diante da garota.

“Como isso é possível?” - pensou Melanie, completamente aturdida.

Impetuoso, Marcus circulou a garota. Aproximou-se e farejou-a. Melanie tremeu ao sentir o calor do corpo do homem que, agora, estava posicionado bem atrás dela.

- Marcus! Deixe-a em paz. – gritou Julian.

O tio encarou-o com desdém enquanto passava a mão sobre os cabelos de Melanie.

- Já acha que está em condições de dar ordem, lobinho? – Marcus rangeu os dentes, penetrando profundamente em seus olhos – Está pensando que é como seu pai?

Julian cerrou os punhos.

- Você não tem ideia de como as coisas são. – continuou Marcus – Você é tão ingênuo que não consegue perceber o que está diante do seu nariz.

Marcus farejou novamente Melanie; depois, fechou os olhos como se tivesse tomado de um êxtase. Melanie, totalmente imóvel, olhou para Julian e suplicou ajuda. Ele avançou na direção do tio. Marcus deu um sorriso escarnecedor e posicionou-se para receber o seu ataque. Um bramido ecoou em todo o vale: a voz de Agnes.

Quando os lobos foram perseguidos, e lentamente extintos em quase toda a Europa, ao longo dos séculos XVIII e XIX, restou apenas a tenacidade de sobreviver aos que migraram para outros continentes. Esse sentimento fazia-se presente na senhora de longas cãs que se prostrava diante dos seus descendentes. Sua voz interveio com decisão, não só neste, mas em todos os períodos em que comandou a família. Seja como for, na derrota ou no triunfo, Agnes tomava o domínio da situação, e nisso fora extremamente bem-sucedida. Até agora.

- O que pensam que estão fazendo?!

Agnes soltou um brado carregado de amargor. Marcus e Julian retraíram-se e olharam imediatamente na direção da matriarca. Os familiares que seguiam a senhora enfileiram-se junto ao portão. Melanie observava, com o corpo inteiramente rijo, a aproximação da senhora que tinha toda a autoridade na fala. Agnes aproximou-se de Melanie e esquadrinhou-a na íntegra.

- É por isto que estão a ponto de desonrar todos nós? – disse a mulher, apontando para Melanie.

“Que maravilha! Virei “isso” agora!” – pensou Melanie.

Agnes encarou o neto, apontando para os demais que estavam junto ao portão.

- Isso é mais importante que os laços de sangue que você possui, menino?

- Desculpe-me, vó. Mas ela não tem culpa de nada.

Agnes fez uma pausa e demonstrou, visivelmente, que estava no limite. Ela fechou os olhos e parecia querer desfalecer. Wladmir segurou-a; Agnes empurrou o gigante sob os olhos curiosos de todos que ali estavam.

- Não quero sua ajuda, imprestável!

A velha mulher voltou a encarar o neto.

- Nosso instinto... – ela batia no peito – Isso jamais pode mudar. Entendeu?

Julian anuiu com um leve balançar de cabeça.

- A família tem que sobreviver pra você sobreviver. Aqui do lado de fora está o perigo. – Agnes apontou mais uma vez para Melanie – E você já o trouxe para o nosso portão. Quer colocá-la para o lado de dentro também?

Melanie tentou imaginar que perigo poderia proporcionar àquela gente toda. Ela, sim, era uma menina indefesa quase perdendo o pouco de força que ainda a estava mantendo de pé.

- Você tem ideia quem é essa criatura? Quer que os lacaios que a protegem venham bater à nossa porta e começar tudo de novo?

“O que foi isso que a velha senhora quis dizer? Lacaios?” – pensou Melanie, sem entender. “Que lacaios?”

Ela não possuía lacaio algum a protegendo. Possivelmente, a senhora havia se enganado sobre ela, confundindo-a com alguma outra garota da cidade.

- Deixe que venham, mãe! – garganteou Marcus.

- Cale-se, Marcus! – irritou-se Agnes – Você não tem a mínima idéia do que está falando!

- Se vierem, vão ter o que merecem.

- E nós também! Quantos dos nossos irão perecer? - Agnes olhou demoradamente para aqueles que estavam apreensivos junto ao portão - Não quero passar por isso de novo. - a mulher tornou a procurar os olhos do neto - Portanto, mande essa criatura vil desaparecer daqui. - Agnes olhou para Melanie - Não sei o que você está fazendo na nossa cidade, mas nunca mais ponha os pés aqui. Nunca mais.

A matriarca fez sinal para que Marcus a acompanhasse. Agnes, seguida do filho e de Wladmir, seguiu em direção à fazenda. Julian e Melanie permaneceram paralisados. A garota não conseguia entender o porquê de sua presença causar tanto furor na senhora. A velha parou junto ao portão e, sem se virar, exclamou:

- Julian! Venha, agora!

Agnes retomou a caminhada e foi seguida pelos demais. Julian olhou pesaroso para Melanie; ele não conseguia pronunciar palavra alguma. Na verdade, palavra nenhuma teria algum sentido agora. Ele tinha a convicção de que nada amenizaria o que Melanie estaria sentindo; deve ter sido demais para ela tudo que acontecera. Julian fez meia-volta e seguiu, passando pelo portão. A garota, recém-chegada à cidade, jamais imaginou que passaria por algo assim. Muitos acontecimentos e atitudes não faziam sentido. Situação insólita que a deixava sem reação alguma. Apenas tinha uma certeza: a de que, naquele momento, um pesado portão fechava-se diante de seus olhos.

20 comentários:

  1. Hey! Me permite fazer uma sugestão só? Particularmente, acho melhor esse tipo de história ser narrado no passado... Mas sugestão, só! Tua história tá ótima, e espero que continue a postá-la; quero ver o que vai acontecer!
    Desculpa qualquer coisa! x)

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  2. Aaaahh , só segunda ?? Pooxa :(
    Tá muito boa a história .. estou adorando !
    E ah , cria mesmo a comunidade , ou pede pra alguém criar sei lá .. vai ser legal para a galera comentar e discuti sobre a história ;)
    Beeijo , e continua postando !
    xx, Larissa.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Muito boaaaa!!! continua assim!!! :)
    e sobre a comunidade... cria mesmo, vai ser muito boa!!!!
    e tenha um feliz 2009!!!

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  5. só segunda ? ;OO
    omg' vou morrer de curiosidade até lá!!
    bgs ;*

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  6. Segunda ??? O.O
    to morrendo de curiosidade aki !!!

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  7. Vo tentar esperar ateh segunda =D
    Faz mesmo a comunidade, eu até cheguei a procurar alguma comunidade da sua história no orkut, mais ñ achei.
    Feliz 2009 pra vocee!!

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  8. Socorro não posso esperar até segunda
    Bom a história está otima parabéns
    Sobre o orkut, faça mesmo!
    Feliz 2009 pra vc tb

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  9. Aiaiai!!
    Até segunda tem muuuito tempo!! =/
    Cria sim a comu, serei a membro nº 1!!! \o/

    Continue assim, a história tá mto boa!! :D

    (A pessoa que te perguntou se vc já leu Crepúsculo roubou a minha idéia! :X Hehehe )

    Feliz 2009!
    Conte com a minha presença na comu (se vc criar! ;D)

    Beijosmil! :*

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  10. Débora, parabéns pela obra, estou adorando. É muito bom saber que não há apenas obras internacionais nesse segmento!!!
    Desejo que sua obra seja infinitamente multiplicada!!!
    Quanto a "comu" também procurei mas não achei nada a respeito. Quando houver também participarei ativamente!!!
    Agora...esperar pela postagem de cada cap é realmente uma tortura - hehe
    Muitos bjs.
    Talitha.

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  11. Nossa.. descobri esse blog por meio de uma comunidade de Crepúsculo no Orkut. Li tudo em um dia [em uma hora.. agora é meia noite e meia e acabei de ler o nono capítulo] Estou adorando sua obra [seu blog já está nos meus favoritos]. Acho que está um pouco parecido demais com Crepúsculo, mas 'É muito bom saber que não há apenas obras internacionais nesse segmento.' [2]

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  12. oi eu tambem descobri aqe numa comu de crepusculo, isso aqe ta muito legau *-* continua escrebend to louca pra ler o resto ._. agr são 3 da manha bls, mas li tudo hoje \m/

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  13. A história da ficando sensacional.
    Tô louca pra saber a continuação...
    Chega segundaaaaaaaaaaaaaaaaaa !

    Parabéééns e continue escrevendo !
    Ahh, se quiser fazer a comu. Apoio total

    Feliz 2009 !

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  14. Historia muiito boa
    to louca pra saber o resto *-*
    Criaram uma comunidade pra historia,eu vi na comunidade do crepusculo
    Cheega segunda =D

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  15. Olá de novo!!
    Bom, criaram a comunidade...
    o Link: http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=53144736

    Débora, se quiser, divulgue aqui a comu ;D

    Beijosmil! :*
    **aguardando segunda-feira**

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  16. Parabéns!
    Está muito bom!

    Feliz 2009 e continue postando!
    =D

    Beijos!

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  17. Nossa
    esse capitulo foi uma supresa pra mim,
    não imaginei que eles iam reagi assim,
    a cabeça de Melenie de ve tah a mil..

    e como assim vc não tem orkut?
    todo mundo tem orkut...

    Faz logo...

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  18. Seu perfil é igual a mim!Amei seu blog e vou sempre lê-lo!

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